Diagnóstico precoce

O Brasil vai avaliar os alunos na alfabetização. É a chance de salvar as crianças antes da repetência.

Época- Ed. 153

Quando a professora Elzileine do Nascimento Oliveira começou a dar aula para a 3a série do ensino fundamental de Sobral, no Ceará, descobriu que poucos de seus alunos podiam ler os livros didáticos que recebiam. “Cerca de dez liam os contos e poemas”, afirma. “Os outros 20 não identificavam nem as palavras.” Para lidar com o problema, ela dividiu a turma. Enquanto o primeiro grupo interpretava os textos, o segundo juntava as letras para formar palavras. Como a escola não previa material de alfabetização para a 3a série, ela usava recortes de revistas.

A experiência de Elzileine completa dez anos neste mês. Até hoje, o problema que ela enfrentou é comum nas escolas públicas de todo o país. Em Sobral é diferente. O município criou uma avaliação para a alfabetização que passou a servir de guia para os professores. Duas vezes ao ano, uma equipe da Secretaria de Educação vai às escolas verificar como cada aluno, da 1a à 4a série, lê e escreve. O objetivo é detectar as dificuldades e repassá-las aos professores, que poderão dar reforço antes de o ano acabar. Em 2001, a primeira avaliação local revelou que menos da metade dos alunos sabia ler ao entrar na 3a série. Hoje, o índice pulou para 93%.

Sobral virou referência. O sucesso da experiência serviu de inspiração para um novo sistema de avaliação nacional. É a Provinha Brasil, que em abril começará a ser aplicada em turmas do segundo ano de alfabetização de todo o país. A adesão dos municípios é voluntária. O professor pode baixar os testes e conferir o desempenho dos alunos pela internet. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, está terminando de produzir o material que vai auxiliar o professor na interpretação dos resultados. A partir desse diagnóstico, feito já no começo do ano, o professor pode planejar as atividades com o foco nas dificuldades de sua turma. “O objetivo é estimular a intervenção no começo da alfabetização, enquanto ainda dá tempo”, afirma Amaury Patrick Gremaud, diretor de Avaliação da Educação Básica no Inep. Neste ano, pela primeira vez, o Brasil vai descobrir quantos alunos da rede pública são analfabetos. Antes da Provinha, as avaliações nacionais testavam apenas os conteúdos da 4a e da 8a série do ensino fundamental e do 3o ano do ensino médio. “Quando se identifica um problema de leitura na 4a série, o aluno já perdeu muito e a recuperação fica difícil”, diz Amaury.

Para o educador Nigel Brooke, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, é fundamental que os problemas da alfabetização sejam resolvidos enquanto o aluno está nos primeiros anos. Brooke é um dos integrantes da pesquisa Geração Escolar, que há três anos acompanha a evolução de 20 mil alunos nas primeiras séries do ensino fundamental. Para ele, a pesquisa aponta um distanciamento entre escola pública e privada a partir da 3a série. “Enquanto a particular começa com interpretação de texto, a pública continua lidando com problemas que deveriam ter sido resolvidos na 1a e na 2a série”, afirma. “A turma não se desenvolve porque o professor precisa voltar aos procedimentos iniciais.”

A professora Elzileine fez parte de outra mudança implementada por Sobral. Depois de recuperar as turmas atrasadas, o município localizou os bons alfabetizadores e os transferiu para as primeiras séries. Hoje, os alunos de Sobral passam a compreender as letras e as palavras na hora certa.

Sem atraso
A avaliação permitiu dobrar o número de alunos que aprendem a ler nos primeiros anos – porcentual
de alunos alfabetizados, em Sobral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diagnóstico precoce

O Brasil vai avaliar os alunos na alfabetização. É a chance de salvar as crianças antes da repetência.

Época- Ed. 153

Quando a professora Elzileine do Nascimento Oliveira começou a dar aula para a 3a série do ensino fundamental de Sobral, no Ceará, descobriu que poucos de seus alunos podiam ler os livros didáticos que recebiam. “Cerca de dez liam os contos e poemas”, afirma. “Os outros 20 não identificavam nem as palavras.” Para lidar com o problema, ela dividiu a turma. Enquanto o primeiro grupo interpretava os textos, o segundo juntava as letras para formar palavras. Como a escola não previa material de alfabetização para a 3a série, ela usava recortes de revistas.

A experiência de Elzileine completa dez anos neste mês. Até hoje, o problema que ela enfrentou é comum nas escolas públicas de todo o país. Em Sobral é diferente. O município criou uma avaliação para a alfabetização que passou a servir de guia para os professores. Duas vezes ao ano, uma equipe da Secretaria de Educação vai às escolas verificar como cada aluno, da 1a à 4a série, lê e escreve. O objetivo é detectar as dificuldades e repassá-las aos professores, que poderão dar reforço antes de o ano acabar. Em 2001, a primeira avaliação local revelou que menos da metade dos alunos sabia ler ao entrar na 3a série. Hoje, o índice pulou para 93%.

Sobral virou referência. O sucesso da experiência serviu de inspiração para um novo sistema de avaliação nacional. É a Provinha Brasil, que em abril começará a ser aplicada em turmas do segundo ano de alfabetização de todo o país. A adesão dos municípios é voluntária. O professor pode baixar os testes e conferir o desempenho dos alunos pela internet. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, está terminando de produzir o material que vai auxiliar o professor na interpretação dos resultados. A partir desse diagnóstico, feito já no começo do ano, o professor pode planejar as atividades com o foco nas dificuldades de sua turma. “O objetivo é estimular a intervenção no começo da alfabetização, enquanto ainda dá tempo”, afirma Amaury Patrick Gremaud, diretor de Avaliação da Educação Básica no Inep. Neste ano, pela primeira vez, o Brasil vai descobrir quantos alunos da rede pública são analfabetos. Antes da Provinha, as avaliações nacionais testavam apenas os conteúdos da 4a e da 8a série do ensino fundamental e do 3o ano do ensino médio. “Quando se identifica um problema de leitura na 4a série, o aluno já perdeu muito e a recuperação fica difícil”, diz Amaury.

Para o educador Nigel Brooke, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, é fundamental que os problemas da alfabetização sejam resolvidos enquanto o aluno está nos primeiros anos. Brooke é um dos integrantes da pesquisa Geração Escolar, que há três anos acompanha a evolução de 20 mil alunos nas primeiras séries do ensino fundamental. Para ele, a pesquisa aponta um distanciamento entre escola pública e privada a partir da 3a série. “Enquanto a particular começa com interpretação de texto, a pública continua lidando com problemas que deveriam ter sido resolvidos na 1a e na 2a série”, afirma. “A turma não se desenvolve porque o professor precisa voltar aos procedimentos iniciais.”

A professora Elzileine fez parte de outra mudança implementada por Sobral. Depois de recuperar as turmas atrasadas, o município localizou os bons alfabetizadores e os transferiu para as primeiras séries. Hoje, os alunos de Sobral passam a compreender as letras e as palavras na hora certa.

Sem atraso
A avaliação permitiu dobrar o número de alunos que aprendem a ler nos primeiros anos – porcentual
de alunos alfabetizados, em Sobral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um terço dos estudantes de 4ª série sabe o equivalente a um aluno da 1ª

Um terço dos estudantes de 4ª série sabe o equivalente a um aluno da 1ª

Ministério da Educação elabora parâmetros inéditos para dizer o que se deve esperar da criança em cada fase escolar

O Estado de SP – 23/03/08 – Domingo

Um terço das crianças brasileiras matriculadas na 4ª série do ensino fundamental não sabe nem sequer o que deveriam ter aprendido ao final do 1º ano de escola. A conclusão, desta vez, é oficial, e parte de um estudo ainda inédito preparado pelo Instituto de Estatísticas e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, e obtido com exclusividade pelo Estado. Pela primeira vez, o ministério criou parâmetros para dizer objetivamente o que um aluno deve saber em cada nível de escolaridade. A conclusão é que as crianças vão à escola, mas isso está longe de significar que estão aprendendo.

A base do estudo são os resultados da chamada Provinha Brasil, a primeira avaliação de alfabetização feita no País, que começa a ser repassada para os Estados neste mês. Para poder dizer a cada Secretaria de Educação se seus alunos sabem o que deveriam saber ao final da alfabetização, foi criada uma escala com cinco níveis.

O quarto nível, em que um estudante deve ser capaz de ler textos curtos com vocabulário comum na escola, foi considerado pelo Inep como o ideal para um menino de, normalmente, 8 anos que esteja terminando a 1ª série primária – ou o 2º ano, na nova metodologia do ensino fundamental de nove anos.

A comparação dessa escala com a do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – a avaliação da 4ª e 8ª séries do fundamental e 3º ano do ensino médio, feita a cada dois anos – mostra que esse quarto nível corresponde de forma muito aproximada à pontuação de 125 a 150.

Porém, na 4ª série (ou, agora, o 5º ano do fundamental), um terço dos estudantes brasileiros avaliados em 2005 não passou desse nível. Se forem consideradas apenas as escolas públicas – descontadas as federais, que costumam puxar as notas para cima -, esse índice ainda fica um pouco pior: 33,3%. Nas redes municipais chega a 35%.

São crianças terminando a 4ª série, prestes a entrar em um mundo escolar ainda mais complexo, e que não conseguem entender o enunciado de uma questão ou mesmo uma historinha mais longa. E essa realidade fica ainda pior quando se olham as diferenças regionais.

Mesmo com melhorias recentes, o Nordeste ainda mantém os piores indicadores: metade das crianças de 4ª série tem nível de 1ª. No Rio Grande do Norte, quase 60% estão nessa situação. Mesmo em São Paulo, o Estado mais rico do País, são 28,7% dos estudantes.

A escala preparada pelo Inep ainda permite calcular qual seria a pontuação ideal de um estudante da 4ª série/5º ano do fundamental: entre 200 e 210 pontos, seguindo a progressão natural do aprendizado.