Seis copos de vinho ao dia não fazem mal ao coração

Seis copos de vinho ao dia não fazem mal ao coração

Consumo de álcool mesmo em excesso pode reduzir até 30 por cento risco de doença cardíaca

2010-02-15

Os  investigadores recordam que o álcool provoca 1,8 milhões de mortes no  mundo
Os investigadores recordam que o álcool provoca 1,8 milhões de mortes no mundo

Até seis copos de vinho ao dia são saudáveis para o coração. É o que acaba de confirmar um estudo espanhol que constata que o consumo moderado, e também elevado, de bebidas alcoólicas diminui o risco de doença cardiovascular nos homens.

A autora principal do estudo Larraitz Arriola, do Departamento de Saúde Pública do Governo Basco, em Guipúzcoa, confirma: “A nossa descoberta suscitou muita polémica no Reino Unido, após a publicação na revista Heart".

"A verdade é que beber mesmo em quantidades mais elevadas protege o coração. Isto já se tinha confirmado em estudos prévios. O que também é certo é que o álcool eleva o risco de sofrer outras doenças como o cancro no fígado e laringe e patologias hepáticas”, adianta a investigadora ao El Mundo.

Por este motivo, “começámos o artigo dizendo que as bebidas alcoólicas são a razão de 1,8 milhões de mortes por ano em todo o mundo. Nós não recomendamos o consumo de álcool e a Organização Mundial de Saúde também não. O que aconselhamos é que as pessoas que bebem, ao menos, tentem fazê-lo de uma forma moderada”, acrescentou Arriola.

O estudo científico

A investidação, parte do Estudo Prospectivo Europeu em Investigação sobre o Cancro (EPIC), em que participam dez países europeus, contou com 15.630 homens e 25.808 mulheres entre os 29 e os 69 anos, seguidos durante uma década.

Tanto Arriola como a sua equipa analisaram o estilo de vida dos participantes e as duas possíveis patologias: dieta, exercício, consumo de tabaco, historial médico, hipertensão, angina de peito, diabetes ou algum problema cardíaco entre outros.

Era considerado consumo moderado a ingestão de cinco a 30 gramas de álcool por dia enquanto os valores se situavam de 30 a 90 gramas no consumo elevado e subiam a 90 no muito alto. Um copo contém entre 8 a 10 gramas de etanol.

Protecção apenas para homens

Maior protecção para consumidores do que para abstémicos
Maior protecção para consumidores do que para abstémicos

“Um dos aspectos inovadores do trabalho é que é dos poucos em que há uma separação entre abstémicos e ex-alcoólicos. Pensa-se que quando uma pessoa deixa de beber é porque tem alguma doença e o médico recomenda a abstinência. Efectivamente, os nossos ex-alcoólicos sofriam mais de hipertensão e diabetes”, comentou a investigadora.

Os dados revelam que os homens que consumiam álcool diariamente de forma moderada, alta e muito alta sofriam 30 por cento menos de doenças cardíacas em comparação com os abstémicos.

“No entanto, não encontramos associação entre o consumo de álcool e a protecção cardíaca nas mulheres. A razão poderá estar no facto delas sofrerem doenças cardíacas em idades mais avançadas, quando desaparece a protecção dos estrógenios. O nosso estudo limitou-se a uma população entre os 35 e os 64 anos. Talvez se tivéssemos feito um seguimento mais amplo poderíamos ver também esta associação”, afirma a investigadora.

Larraitz Arriola reconhece que no seu estudo “a protecção cardiovascular produziu-se independentemente do tipo de álcool ingerido”. A investigadora recorda que estas bebidas reduzem o risco de doença cardíaca “porque são vasodilatadoras e antiagregantes plaquetários, como já se tinha demonstrado em estudos com animais”.