Crianças devem diversificar na escolha de atividades físicas, indicam especialistas.

As crianças devem diversificar na escolha das atividades físicas, segundo especialistas. “Caminhada, brincar, correr, pular, subir, descer é muito indicado”, enumerou o pediatra Carlos Eduardo Reis da Silva, presidente do Comitê de Esportes e Exercício da Sociedade Mineira de Pediatria, que explicou que a “especialização precoce” pode não trazer tantos benefícios.
“Recomenda-se que a criança, a partir dos cinco anos, seis anos, comece as escolinhas de esporte mesmo, para que ela percorra várias modalidades esportivas, não fique apenas em uma modalidade, não ficar só no futebol, ou só na natação, ou só no judô, ou só no balé, justamente para ela desenvolver o repertório de movimentos, de habilidades que vão ser mais úteis mais pra frente”, contou o pediatra.
De acordo com o profissional de Educação Física Diogo Fiorini Carvalho [CREF 016321-G/MG], as crianças estão em fase de aprendizagem e, por isso, a variedade pode trazer benefícios, como um ganho na “bagagem motora”. Carvalho contou que a escolha de um único esporte na infância pode ser estressante, o que pode levar a criança a desistir da atividade.
“Depois dos 12 anos, aí a gente começa a pensar ou imaginar que ela possa definir um único esporte, uma única atividade a se fazer. Então ela pode escolher o vôlei, escolher o basquete, escolher até a musculação, se for o caso. Ela vai escolher algum esporte, alguma atividade que ela se sinta melhor. E aí a partir dos 16, 17 anos de idade que a gente pode entrar em uma fase de especialização mais aprofundada, quer dizer, ela vai começar a treinar como gente grande”, explicou o profissional de Educação Física.
Desde os três anos, Gabriela Rocha Furiati Lopes, hoje com seis, dança balé, faz natação e pratica ginástica de solo. A mãe dela, Maira Fernandes, contou ao G1 que o balé foi uma escolha da Gabriela. Já a natação foi uma opção da mãe, que acha importante que a filha aprenda a nadar.
“Ajuda muito. Até a disposição dela. Ajuda na agilidade, na escola. Ela adora. Ela sempre gostou. Se tivesse tempo e eu pudesse, ela fazia todas as atividades. Tem dia que eu demoro um pouco a chegar e ela está lá, fazendo judô”, afirmou Maira. Segundo ela, a atividade ajudou ainda na socialização da filha. “Já fez muitos amigos. Ela é supersocial. Como ela está lá direto, desde os três anos, ela conhece todos os meninos”, disse.
O pediatra Carlos da Silva pontua que, além da socialização, a atividade física na infância pode trazer inúmeros benefícios. “A gente pode dividir entre os benefícios psicológicos, que é a melhora da autoestima, a convivência, o contato com os colegas, o relacionamento. Nós temos os benefícios físicos, que é a melhora da composição corporal, o controle das taxas de açúcar e gordura no sangue, a melhora da função cardiorrespiratória. E nós temos os benefícios sociais, que é a integração dessa criança com outras crianças e com a sociedade de uma maneira geral”, explicou.
Ele destacou, entretanto, que os exercícios físicos devem ser feitos em locais adequados e com equipamentos apropriados. (…)
Silva afirmou, porém, que um exercício com uma função específica, que auxilie a criança e o adolescente na prática de um determinado esporte pode trazer benefícios. “Seria o treinamento funcional, bem supervisionado, bem individualizado, com o objetivo único e simplesmente de melhora de alongamento, de flexibilidade, de prevenção de lesão no esporte que ele já pratica”, disse.
Para o profissional de Educação Física Diogo Carvalho, a musculação não está proibida. Ele conta, no entanto, que as outras atividades podem trazer muito mais benefícios nesta fase da vida. “Eu não indicaria a musculação para uma criança, ou para um adolescente – a não ser que seja necessário –, por conta desses outros fatores, por conta da habilidade motora que ele precisa melhorar, por conta da socialização, do trabalho em equipe, essas outras coisas que são importantes também”, opinou o especialista.
Carvalho destaca que um dos fatores mais importantes na seleção da atividade é que a criança participe da escolha. “A escolha da modalidade tem que encaixar com a criança. Você tem que deixar a criança escolher o que ela gosta de fazer. Não dá para o pai escolher a atividade pra criança baseado no sonho dele”, ponderou o educador físico.

Fazer exercícios não freia avanço da demência, indica pesquisa.

Estudo submeteu mais de 300 pessoas com sintomas moderados de demência a programa de exercícios e não identificou melhora em capacidade cognitiva. Exercícios físicos para pessoas com sintomas de demência leve ou moderada “não funcionam”, de acordo com estudo publicado na revista acadêmica British Medical Journal.
Os cientistas queriam testar sugestões, feitas por estudos anteriores, de que exercícios poderiam prevenir o declínio de habilidades cognitivas, como no caso de pacientes com Alzheimer.
Os pesquisadores disseram que não identificaram melhora nas habilidades de raciocínio ou no comportamento da doença ao analisar os casos de mais de 300 pessoas na casa dos 70 anos que fizeram exercícios aeróbicos e de força durante quatro meses.
O lado positivo foi que o condicionamento físico dos que participaram da pesquisa melhorou. Mas foi constatado que, 12 meses depois, as habilidades cognitivas das pessoas que fizeram exercícios tiveram um declínio levemente maior do que pessoas que não fizeram.
Novos testes devem ser feitos para explorar outras formas de exercícios, dizem os pesquisadores, da Universidade de Oxford. Mas, atualmente, a ideia de criar programas de atividades físicas para pacientes com demência, estudada pelo NHS, o sistema de saúde pública britânico, não parece ser um bom investimento, na avaliação dos pesquisadores.
Bicicleta e levantamento de peso.
No estudo, 329 pacientes com demência fizeram exercícios em uma academia por 60 a 90 minutos duas vezes por semana, num período de quatro meses. Eles fizeram pelo menos 20 minutos de bicicleta e também ergueram pesos leves. Os pacientes que participaram do estudo também foram orientados a fazer exercício em casa por uma hora toda semana. Esse grupo que fez exercício foi avaliado e comparado com um grupo de 165 pessoas – também com demência – que receberam cuidados convencionais.
Sallie Lamb, que comandou a pesquisa, disse que os resultados revelaram que apesar da nítida melhora na condição física, esses benefícios
“não se traduzem em melhoras nas habilidades cognitivas, nas atividades da vida diária, comportamento ou na qualidade de vida relacionada à saúde”
Após 12 meses, testes de comprometimento cognitivo mostraram declínio nos dois grupos – mas um declínio levemente maior no grupo dos que fizeram exercícios. Martin Rossor, professor de neurologia clínica da University College London, diz que os resultados do estudo não surpreendem uma vez que a degeneração do cérebro começa muitos anos antes dos sintomas como, por exemplo, em casos de Alzheimer.
“Portanto, a mensagem é que o exercício é bom, mas iniciar um regime de exercícios uma vez que a doença esteja bem estabelecida pode ter valor limitado”
Sara Imarisio, que comanda o centro de pesquisas Alzheimer’s Research UK, no Reino Unido, diz que outras formas de atividades físicas poderiam ter outros efeitos e que elas devem ser pesquisadas no futuro. Ela afirma ainda que são muitos os benefícios dos exercícios físicos, além de fazer bem à saúde. “Para muitas pessoas, o exercício pode ser uma fonte de prazer e proporcionar oportunidades valiosas para interação social”, avalia. “Isso se aplica às pessoas que vivem com demência tanto quanto a qualquer outra pessoa”, completa Imarisio.
Por isso, apesar dos resultados do estudo, especialistas ainda recomendam exercícios físicos, vistos como uma das melhores maneiras de reduzir o risco de contrair demência em idosos saudáveis. E avaliam que mais pesquisas são necessárias para elaborar um programa de exercícios que seja realmente eficiente para melhorar as condições de saúde do cérebro em quem já tem algum tipo de demência.
Fonte: https://www.bmj.com/content/361/bmj.k1675

Afinal, atletas transexuais têm mais força que as jogadoras cisgênero?

Para uma transexual entrar no mercado de trabalho é uma verdadeira via-crucis. Elas enfrentam preconceito, desconfiança e muita rejeição. Mas o desafio pode ser ainda pior para aquelas que sonham em seguir carreira como atleta.

O esporte ainda é muito fechado para a diversidade sexual. Na maioria das modalidades, dirigentes e torcedores ainda são machistas e homofóbicos. Aos poucos, entretanto, o debate vai aumentando e os clubes vão se abrindo ao diferente. Mas a polêmica ainda pulsa.
Em 2015, antes das Olimpíadas do Rio, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu alguns requisitos para a inclusão de atletas trans nas competições mundiais.
Atualmente, elas não precisam fazer cirurgia, mas quem se declara do sexo feminino necessita manter o nível de testosterona inferior a 10 nmol/L por um ano. Os exames são feitos antes dos jogos, regularmente durante a temporada.
Com o fim das Olimpíadas de inverno, o COI deve atualizar suas regras sobre a participação de transexuais em competições oficiais. Especialistas, entretanto, não acreditam que as diretrizes mudem muito.
Mas a decisão não é consenso. Poucas esportistas chegam ao nível de alto rendimento e, por isso, há dificuldade em estudar e comprovar se o corpo que cresceu masculino leva vantagem, mesmo após a terapia hormonal.
No Brasil, a atleta Tifanny Abreu está no olho do furacão. Ela nasceu Rodrigo, mas completou a transição em 2015. Foi a primeira atleta trans a ser aceita em uma competição nacional: a Superliga de Vôlei.
A jogadora tem carreira antiga na modalidade. Disputou competições masculinas e, durante a terapia hormonal, não mudou de liga. Só depois, na Itália, participou de jogos em equipes femininas. E, de volta ao Brasil, em 2017, foi aceita no Vôlei Bauru.
Entenda a polêmica
De acordo com a pesquisadora Joanna Harper, do Providence Portland Medical Center, nos Estados Unidos, a diminuição da testosterona é suficiente para igualar as competidoras transexuais às mulheres biológicas, chamadas de cis. Esse teste seria satisfatório para provar que as atletas podem competir juntas.
“Terapia hormonal para mulheres trans normalmente envolve um bloqueador de testosterona e um suplemento de estrógeno. Quando os níveis do ‘hormônio masculino’ se aproximam do esperado para a transição, a paciente percebe uma diminuição na massa muscular, densidade óssea e na proporção de células vermelhas que carregam o oxigênio no corpo”, diz Joanna.
Ainda conforme pontuou a especialista, enquanto isso, o estrógeno aumenta as reservas de gordura, principalmente nos quadris. Juntas, essas mudanças levam a uma perda de velocidade, força e resistência — todos componentes importantes de um atleta.
Durante a terapia hormonal, Tifanny perdeu toda a potência e explosão. Se saltava 3,50m quando homem, agora pula, no máximo, 3,25m. O número ainda é alto se comparado a outras jogadoras de altura parecida, informou a profissional.
Tifanny tem 1,94m, a central Thaísa, de 1,96m, salta 3,16m, o mais alto do país. Mas, fora daqui, a italiana Paola Egonu alcança os 3,36m, e a chinesa Ting Zhu, 3,27m. Wallace, oposto da seleção masculina, mesma posição de Tifanny, chega aos 3,44m.
Segundo Regis Rezende [CREF 004202-G/GO],  professor de Educação Física, fisiologista, pós-graduado em voleibol e especialista do caso Tifanny, os estudos mostram que em alguns esportes a performance de atletas submetidas à terapia hormonal é inclusive abaixo de mulheres cisgênero.
Existe uma analogia para explicar: é como se fossem carros grandes com pequenas engrenagens. “Razoável afirmar que os estudos não têm apontado vantagens para atletas transexuais em comparação a atletas cisgênero em nenhum estágio de suas transições. Ainda assim notamos a resistência na aceitação dos estudos vigentes”, conta o professor.
Mas para as pesquisas evoluírem, será necessário perceber as individualidades de cada esporte. Na ginástica olímpica, por exemplo, é desvantagem para a atleta transexual ter peso e densidade óssea diferentes.
No voleibol, também não existe vantagem em ser alto, pois mulheres cisgênero também podem chegar perto dos 2m de altura. Além disso, devemos lembrar que nem todas as trans são grandes e fortes, assim como as pessoas que se identificam com seu gênero têm composições corporais diferentes.
Repercussão
A presença de Tifanny na Superliga recebe críticas de todos os lados. Algumas falas recentes chamaram muito a atenção de quem acompanha o caso. Primeiro foi o médico João Granjeiro, coordenador da Comissão Nacional Médica da Confederação Brasileira de Vôlei, em entrevista ao jornal O Globo. “Nenhuma mulher, a não ser que tenha usado testosterona de origem externa ao organismo, conseguiria formar o mesmo corpo. Não se trata de ser homofóbico ou politicamente incorreto. O assunto é necessário”, disse.
Tandara, uma das melhores jogadoras do Brasil no momento, e a medalhista olímpica Ana Paula Henkel também se juntaram ao coro:
A inclusão de pessoas transexuais na sociedade deve ser respeitada, mas essa apressada e irrefletida decisão de incluir biologicamente homens, nascidos e construídos com testosterona, com altura, força e capacidade aeróbica de homens, sai da esfera da tolerância e constrange, humilha e exclui mulheres”
Ana Paula Henkel
Para Regis, a resistência das atletas em abraçar Tifanny está na luta histórica das mulheres em conquistar seu lugar nos esportes. Mas, pontua ele, essa busca não pode excluir indivíduos e muito menos caracterizar transfobia.
“O direito de expressão é cabível a todas as atletas envolvidas. Mas manifestações como essas descaracterizam a proposta de igualdade e a tentativa de qualquer fair-play que os estudos possam trazer”, diz o professor de Educação Física.
A central e bicampeã olímpica Thaísa, em contrapartida, afirmou respeitar a decisão dos órgãos competentes. “Não cabe a mim falar se ela pode jogar ou não. Não tenho que achar nada. Não defino nada, não estudei para isso e não estou ali para julgar”, afirmou.
O técnico da seleção brasileira de vôlei feminino, José Roberto Guimarães [CREF 014602-G/SP], disse achar Tifanny uma jogadora interessante e que não tem problemas com a permissão. “Se ela é elegível para o COI, FIVB e pela CBV, ela é elegível para qualquer coisa”, explica.
Presença historicamente baixa nos esportes
Para a secretária de articulação política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, Bruna Benevides, poucas transexuais se aventuram nos esportes porque a sociedade homofóbica acaba as excluindo. Na escola, antes da transformação, os homens afeminados são proibidos de jogar com as meninas e dificilmente vão participar dos jogos com outros meninos.
“Diante deste panorama, o esporte não tem sido um lugar acolhedor. As mulheres trans e travestis ainda sofrem de um estigma muito grande no Brasil. Não à toa, 90% da nossa população ainda é jogada compulsoriamente para a prostituição”, afirma Bruna.
Mas de acordo com Regis, ambientes esportivos deveriam ser espaço de interação e inclusão social e podem servir como local de enfrentamento ao preconceito. “O processo de transexualização é complicado, causa várias mudanças ao corpo, alterações hormonais que influenciam na vida diária. A prática de atividade física é importante no processo de reinserção da pessoa transexual”, explica.
Um dos argumentos de quem é radicalmente contra a presença de transexuais nos esportes é de que os clubes e times dariam mais chances às mulheres trans, em um processo de substituição das mulheres cis.
“É uma falácia desonesta. É absurdo. A quantidade de atletas trans é ínfima em relação à quantidade de mulheres. A própria comunidade de transexuais varia em torno de 1,1% da população, como é possível que em algum momento teremos tantas atletas trans para disputar em pé de igualdade?”, questiona a secretária.
Para ela, a luta principal do movimento é para que se reconheça a identidade de gênero e aceite as trans como as mulheres que são.
“Na síntese, essa discussão é um caso de transfobia motivada pela falta de informação. O fato de as pessoas não pesquisarem, não saberem ou não quererem entender também é preconceito. As transexuais ainda são expulsas de casa cedo — a média é de apenas 13 anos. O Brasil também é o país que mais mata transexuais e travestis e mais consome pornografia trans. A sociedade, agora, está começando a vê-las fora dos espaços comuns, e isso tem causado toda essa polêmica”, conclui Bruna.