O controle externo da universidade |
Coluna – Nas Entrelinhas |
Correio Braziliense |
26/2/2008 |
A fecundação de uma estrutura caduca por um vetor supostamente libertário produziu uma realidade em que não há correspondência entre os recursos que a sociedade coloca no ensino superior e os resultados que este devolve Não é disso que se trata. Não está em questão a liberdade de pensar, pesquisar e ensinar. Trata-se de estabelecer controles sobre como é gasto nas universidades públicas o dinheiro que vem do povo. Aliás, a democracia não é o reino da liberdade absoluta do indivíduo. Não é o sistema em que cada um faz o que quer. No regime democrático autêntico, o ser coletivo exerce sua liberdade ao limitar a liberdade de quem age contra os interesses da coletividade. Eu, por exemplo, posso achar que é um desperdício o dinheiro investido na decoração de um luxuoso apartamento para uso residencial do ocupante eventual da reitoria da Universidade de Brasília. Esses recursos seriam mais bem aplicados se fossem investidos em moradias de estudantes de baixa renda. Infelizmente, porém, não existe qualquer mecanismo institucional que eu e a coletividade (se ela concordar comigo) possamos acionar para fazer valer nossa opinião. A sobrevivência do ultrapassado conceito de autonomia universitária absoluta é mais um subproduto indesejável da luta que se travou contra os governos militares e pela restauração democrática. No período autoritário, as universidades — especialmente as públicas — transformaram-se em trincheiras de resistência. Mas misturaram-se ali alhos com bugalhos. Havia a justa oposição contra o autoritarismo. A ela agregou-se, espertamente, a resistência do establishment universitário contra a modernização que os governos militares pretendiam impor. A abolição da cátedra, por exemplo, foi apenas parcialmente alcançada. A Constituição de 1989 sacramentou essa aliança. Como se sabe, o cruzamento entre indivíduos de espécies diferentes gera descendência estéril. Foi o que aconteceu com a universidade pública brasileira: a fecundação de uma estrutura caduca por um vetor supostamente libertário produziu uma realidade em que não há correspondência entre os recursos que a sociedade coloca no ensino superior e os resultados que este devolve. A palavra “contrapartida” é vista como um palavrão. Quando, por exemplo, queremos colocar um satélite no espaço, precisamos recorrer a foguetes de outros. Para ficar apenas nos limites do Bric, não há comparação entre nossa ciência e a que produzem chineses, indianos e russos. E o quadro tem se agravado por razões de ordem política, já que os últimos ministros da Educação mostram-se mais dispostos a aliar-se ao corporativismo do que a promover as necessárias rupturas. É a extensão, para a universidade, das tendências acomodatícias que o poder público ostenta diante da tragédia do ensino fundamental. O Brasil é um país em que as crianças pobres recebem ensino paupérrimo. Os meninos e meninas pobres saem da escola sem saber ler e escrever. O ministro da Educação pediu duas décadas para resolver o problema, sem que se ouvissem grandes protestos pela largueza do prazo. Talvez porque os filhos dos políticos e dos jornalistas estudem em boas escolas particulares. Eu acabei desviando do tema principal, a universidade pública. Não seria o caso de instituir para ela um controle externo nos moldes que já existem, por exemplo, no Poder Judiciário? Um controle externo administrativo, para controlar como se gasta o dinheiro. Para controlar, inclusive, as fundações por meio das quais a instituição estatal atrai e opera dinheiro privado sem os constrangimentos impostos pelas regras do estado. Afinal, essas fundações beneficiam-se do prestígio da universidade pública. Prestígio que é um valor agregado resultante de anos e anos de investimentos e sacrifícios de toda a sociedade. |
Arquivo mensais:fevereiro 2008
O controle externo da universidade
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Coluna – Nas Entrelinhas |
Correio Braziliense |
26/2/2008 |
A fecundação de uma estrutura caduca por um vetor supostamente libertário produziu uma realidade em que não há correspondência entre os recursos que a sociedade coloca no ensino superior e os resultados que este devolve Não é disso que se trata. Não está em questão a liberdade de pensar, pesquisar e ensinar. Trata-se de estabelecer controles sobre como é gasto nas universidades públicas o dinheiro que vem do povo. Aliás, a democracia não é o reino da liberdade absoluta do indivíduo. Não é o sistema em que cada um faz o que quer. No regime democrático autêntico, o ser coletivo exerce sua liberdade ao limitar a liberdade de quem age contra os interesses da coletividade. Eu, por exemplo, posso achar que é um desperdício o dinheiro investido na decoração de um luxuoso apartamento para uso residencial do ocupante eventual da reitoria da Universidade de Brasília. Esses recursos seriam mais bem aplicados se fossem investidos em moradias de estudantes de baixa renda. Infelizmente, porém, não existe qualquer mecanismo institucional que eu e a coletividade (se ela concordar comigo) possamos acionar para fazer valer nossa opinião. A sobrevivência do ultrapassado conceito de autonomia universitária absoluta é mais um subproduto indesejável da luta que se travou contra os governos militares e pela restauração democrática. No período autoritário, as universidades — especialmente as públicas — transformaram-se em trincheiras de resistência. Mas misturaram-se ali alhos com bugalhos. Havia a justa oposição contra o autoritarismo. A ela agregou-se, espertamente, a resistência do establishment universitário contra a modernização que os governos militares pretendiam impor. A abolição da cátedra, por exemplo, foi apenas parcialmente alcançada. A Constituição de 1989 sacramentou essa aliança. Como se sabe, o cruzamento entre indivíduos de espécies diferentes gera descendência estéril. Foi o que aconteceu com a universidade pública brasileira: a fecundação de uma estrutura caduca por um vetor supostamente libertário produziu uma realidade em que não há correspondência entre os recursos que a sociedade coloca no ensino superior e os resultados que este devolve. A palavra “contrapartida” é vista como um palavrão. Quando, por exemplo, queremos colocar um satélite no espaço, precisamos recorrer a foguetes de outros. Para ficar apenas nos limites do Bric, não há comparação entre nossa ciência e a que produzem chineses, indianos e russos. E o quadro tem se agravado por razões de ordem política, já que os últimos ministros da Educação mostram-se mais dispostos a aliar-se ao corporativismo do que a promover as necessárias rupturas. É a extensão, para a universidade, das tendências acomodatícias que o poder público ostenta diante da tragédia do ensino fundamental. O Brasil é um país em que as crianças pobres recebem ensino paupérrimo. Os meninos e meninas pobres saem da escola sem saber ler e escrever. O ministro da Educação pediu duas décadas para resolver o problema, sem que se ouvissem grandes protestos pela largueza do prazo. Talvez porque os filhos dos políticos e dos jornalistas estudem em boas escolas particulares. Eu acabei desviando do tema principal, a universidade pública. Não seria o caso de instituir para ela um controle externo nos moldes que já existem, por exemplo, no Poder Judiciário? Um controle externo administrativo, para controlar como se gasta o dinheiro. Para controlar, inclusive, as fundações por meio das quais a instituição estatal atrai e opera dinheiro privado sem os constrangimentos impostos pelas regras do estado. Afinal, essas fundações beneficiam-se do prestígio da universidade pública. Prestígio que é um valor agregado resultante de anos e anos de investimentos e sacrifícios de toda a sociedade. |
Shazam iD
ShazamiD enables users to find out what music is playing whenever and wherever they are. The application takes a 10 second recording of the music, connects to Shazam to find a match and displays the result together with a picture of the album artwork and any products available to buy relating to that track. Users can share their music iD’s (tags) as well as manage their list of tags within the application. Users can also see an aggregated chart (Tag Chart) of all the music people have been tagging using Shazam in the UK.
Compatible phones:
Nokia E50, Nokia E60, Nokia E61, Nokia E61i, Nokia E62, Nokia E65, Nokia E70, Nokia E90, Nokia N71, Nokia N73, Nokia N75, Nokia N76, Nokia N77, Nokia N80, Nokia N91, Nokia N92, Nokia N93, Nokia N93i, Nokia N95 , Samsung SGH-i520
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