Futebol feminino sobre boicote de quem o comanda

O futebol feminino evoluiu bastante no Brasil nos últimos três anos, mas poderia ainda estar em outro patamar se não sofresse um boicote tão grande de quem mais deveria se importar com ele. As quartas de final do Brasileiro são a prova disso.

A desculpa é sempre a mesma: “Não dá dinheiro, não é rentável”. Enquanto o mundo caminha na direção contrária, enchendo estádios e mostrando que há grandes públicos interessados em gastar dinheiro com o futebol das mulheres, por aqui quem comanda prefere repetir clichês a trabalhar para contrariá-los.

A Série A1 do Brasileiro feminino neste ano foi a mais equilibrada de todos os tempos. O mínimo que se esperava para o mata-mata era que a arbitragem de vídeo fosse utilizada para evitar erros graves, como os que ocorreram ao longo de toda a primeira fase da competição. As Séries A, B e agora até a C do masculino contam com VAR (esta última com o uso da tecnologia começando na fase decisiva). Mas a CBF optou por deixar o VAR no feminino apenas para as semifinais.

Jogadoras do Corinthians comemoram classificação às semifinais do Campeonato Brasileiro feminino

Jogadoras do Corinthians comemoram classificação às semifinais do Campeonato Brasileiro feminino, maltratado pela CBF – Rodrigo Gazzanel – 21.ago.22/Ag. Corinthians

Pelo pagamento baixo oferecido aos árbitros por jogos da Série A1 do feminino (seis vezes menos do que eles recebem por jogos da Série A e cinco vezes menos do que recebem na Série B), a arbitragem da principal competição de futebol feminino do país costuma ser formada por árbitros(as) menos experientes.

Alguns dos que apitaram as quartas de final, por exemplo, só tinham experiência em jogos de base, Brasileiro de aspirantes ou Série D. Isso acaba contribuindo para que erros apareçam (como apareceram nas quartas de final), afinal jogos decisivos exigem mais da arbitragem.

E, se a CBF opta por não valorizar seu produto colocando a arbitragem de vídeo, os clubes também não se importam em cobrá-la por isso. Quando há erros de árbitros em jogos do futebol masculino, é comum ver os clubes protocolando reclamações formais na CBF. Já foram oficializadas 22 reclamações no futebol masculino nesta temporada. No caso do feminino, apenas uma reclamação foi formalizada (do Corinthians, nas quartas de final).

A confederação diz que o futebol feminino “é uma de suas prioridades” na atual gestão –ainda que fique difícil acreditar nisso, considerando, por exemplo, que a seleção feminina tem data Fifa na semana que vem e até agora não tem nenhum amistoso confirmado para jogar.

“O investimento, a organização e o cuidado com as competições femininas têm aumentado, e isso seguirá acontecendo. É fato que alguns cenários ainda precisam evoluir, mas é importante destacar que a CBF trabalha diariamente nesse sentido”, afirmou, em nota.

Os clubes também poderiam fazer mais para alavancar o crescimento do futebol feminino. Foi ótimo ver alguns deles levando as mulheres para jogar em seus principais estádios nas quartas de final. Mas o jogo do Inter, por exemplo, foi marcado para uma segunda-feira às 15h. Que público consegue ir a um jogo em dia útil nesse horário?

Defensora Millie Bright mexe com a torcida, que lotou o estádio Wembley; final registrou 87.192 torcedores, o recorde da Euro, incluídas nas contas as partidas masculinas do tradicional torneio

Defensora Millie Bright mexe com a torcida, que lotou o estádio Wembley; final registrou 87.192 torcedores, o recorde da Euro, incluídas nas contas as partidas masculinas do tradicional torneio. AFP/Justin Tallis – 31.jul.22

Leah Williamson (ao centro) e Millie Bright (à direita) levantam a taça da Euro 2022 após vitória por 2 a 1 em cima da Alemanha

Leah Williamson (ao centro) e Millie Bright (à direita) levantam a taça da Euro 2022 após vitória por 2 a 1 em cima da Alemanha. AFP/Franck Fife – 31.jul.22

Jogadoras inglesas posam para a tradicional foto do time campeão
Jogadoras inglesas posam para a tradicional foto do time campeão
Jogadoras inglesas posam para a tradicional foto do time campeão
Jogadoras inglesas posam para a tradicional foto do time campeão
Jogadoras inglesas posam para a tradicional foto do time campeão
Jogadoras inglesas posam para a tradicional foto do time campeão

A situação do São Paulo foi ainda pior. A partida foi em Barueri (estádio que não é de tão fácil acesso para os torcedores), e o horário do jogo delas bateu com o do jogo do próprio São Paulo no masculino. O torcedor faz como para acompanhar os dois?

Aí ouvi na semana passada um dirigente do Flamengo dizendo que não fazia sentido mandar o jogo delas no Maracanã (o clube optou por jogar no Luso-Brasileiro) porque “daria no máximo umas 200 pessoas a mais”. Mas quanto o clube se esforçou para divulgar o jogo delas e encher o estádio? Esse dirigente parece não conhecer o potencial da própria torcida.

Enquanto isso, o Corinthians vendeu 15 mil ingressos e arrecadou mais de 300 mil reais com o jogo do feminino. E vai arrecadar bem mais com o dérbi na semifinal. Se os próprios clubes e a CBF não fazem o mínimo, não adianta reclamar que “não é rentável”. E o que vocês estão fazendo para que seja?

Derretimento de “gelo zumbi” elevará nível do mar em 27cm, diz estudo

Fonte: Valor 30/08/22

Previsão elaborada pelo estudo, publicado pela revista “Nature Climate Change”, é mais do que o dobro de estimativas anteriores dos cientistas que acompanham o derretimento das geleiras

O derretimento de gelo na Groenlândia vai fazer com que o nível do mar suba 27cm – mais que o dobro de previsões anteriores – e a culpa é do “gelo zumbi”.

Segundo pesquisadores do Centro de Pesquisas Geológicas da Dinamarca e Groenlândia, o “gelo zumbi” são partes degeleiras que ainda estão presas aos blocos principais de gelo, mas que por conta doaquecimento global, não estão recebendo tanta neve quanto antes e estão fadadas a se descolar – e derreter no mar. 

O estudo publicado na revista “Nature Climate Change” disse ainda que o aumento no nível do mar pode chegar a 78 centímetros. Já o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) do ano passado previu um aumento de 6 a 13 centímetros do nível do mar por conta do derretimento do gelo da Groenlândia até o ano 2100.

Em entrevista à “Associated Press”, William Colgan, glaciologista do Serviço Geológico da Dinamarca e da Groenlândia e um dos autores do estudo, esses grandes pedaços de geleira são considerados “gelos mortos”, que vão desaparecer da camada de gelo em alguns anos independente de ações para evitar as mudanças climáticas. 

Barco passa perto de iceberg na Groelândia — Foto: Felipe Dana/AP 

A previsão de aumento do nível do mar em 27 cm é mais que o dobro de estimativas anteriores sobre o derretimento de gelo na Groenlândia. Os pesquisadores não colocaram uma data-limite para que isso aconteça, mas estimam que o fenômeno pode acontecer entre o final do século e 2150.

Para chegar ao número, cientistas analisaram o equilíbrio do ciclo do gelo. Em situação perfeita, a queda de neve nas montanhas da Groenlândia desce e engrossa as laterais das geleiras, equilibrando o que está derretendo nas bordas. Mas nas últimas décadas há menos reabastecimento e mais derretimento, criando desequilíbrio. 

Os autores do estudo analisaram a proporção do que está sendo adicionado ante ao que está sendo perdido e calcularam que 3,3% do volume total de gelo da Groenlândia derreterá, independente do que aconteça com as medidas para redução das emissões de carbono. 

Um dos autores do estudo disse que mais de 120 trilhões de toneladas de gelo já estão fadadas a derreter devido à incapacidade do manto de gelo em reabastecer suas bordas. 

Esta é a primeira vez que os cientistas calculam uma perda mínima de gelo – e o aumento do nível do mar que acompanha – para a Groenlândia, uma das duas enormes camadas de gelo da Terra que estão diminuindo lentamente devido às mudanças climáticas decorrentes da queima de carvão, petróleo e gás natural.

“Quiet quitting”: fazer o mínimo no trabalho virou tendência?

“Quiet quitting”: fazer o mínimo no trabalho virou tendência?

Fonte: NewsPlus+

O termo “desistência silenciosa” (em inglês, “quiet quitting”) viralizou nas redes sociais após um usuário do TikTok chamado Zaiad Khan postar um vídeo falando sobre a expressão, que significa que “você não está desistindo do seu emprego, mas está abandonando a ideia de ir acima e além”.

Mais adiante na postagem, Khan complementa sua explicação: “Você ainda está cumprindo seus deveres, mas não está mais se submetendo à cultura abusiva de que a vida se resume ao trabalho”, pontua. 

Não demorou muito para a publicação viralizar e acabar virando assunto nos principais veículos de comunicação do mundo, como nos jornais The Guardian e The New York Times. 

Por ser um termo recente, ele ainda não tem uma definição precisa. Para algumas pessoas, significa fazer o mínimo em um trabalho que não mais te satisfaz, até você ser mandado embora, após forçar, de uma maneira passivo-agressiva, sua demissão.

Já para outras, a expressão tem mais a ver com o fato de você colocar limites para não acabar se tornando um workaholic, ainda mais no contexto do trabalho remoto, em que você pode acabar falhando na administração do tempo e sendo engolido pela rotina profissional. Ou seja, a tal da “desistência silenciosa” seria muito mais sobre trabalhar para viver e não viver para trabalhar – e aos poucos, e silenciosamente, ir se distanciando dessa ideia de que o trabalho é a coisa mais importante do mundo.

A questão é que muita gente começou a se identificar com o termo, o que pode significar que muitos profissionais estão sobrecarregados ou infelizes com suas atuais ocupações. 

Um segundo ponto que vale ser destacado é que, para muita gente, esse “quiet quitting” pode acabar afetando colegas de trabalho, especialmente se a pessoa que optar fazer o mínimo for responsável por gerir toda uma equipe. Afinal, fazer o mínimo pode significar sobrecarregar outras pessoas, certo?

Errado. Ou, pelo menos, deveria ser. Psicólogos avaliam que a tendência do momento ligada ao mercado de trabalho pode ser benéfica para a saúde mental das pessoas, uma vez que atua na contramão do burnout. Mas apenas se a “desistência silenciosa” tiver a ver com se desprender da ideia de que trabalhar muito é sinal de bom desempenho, ok? Em um mundo ideal, ninguém deveria acumular funções, ainda mais por questões envolvendo cortes de gastos. 

Se a “desistência silenciosa” tiver ligada à insatisfação, por exemplo, esse “fazer o mínimo” pode até contribuir a princípio com a manutenção da saúde mental do empregado, mas, a longo prazo, esse “empurrar com a barriga” pode acabar se tornando maléfico para ele e para seus parceiros de equipe. Colocar limites é tão importante quanto ser honesto sobre suas entregas, demandas e sobre seu dia a dia de trabalho – por mais difícil que isso possa ser em algumas situações