Coreano nega fraude, mas revista vê erros.

Coreano nega fraude, mas revista vê erros

Depois de uma semana de silêncio, o pioneiro da clonagem Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul (Coréia do Sul), decidiu agir em duas frentes: negou com que tivesse fraudado uma pesquisa revolucionária ou que seus resultados estivessem fundamentalmente errados, mas pediu o cancelamento dela.

Ao mesmo tempo, a “Science”, um dos periódicos científicos mais respeitados do mundo, onde o trabalho foi publicado, diz que Hwang reconheceu ser impossível confiar nos dados do artigo, os quais provariam a criação de 11 embriões humanos clonados.

O trabalho teria usado os embriões, cópias genéticas de pessoas paraplégicas e com doenças degenerativas, para criar linhagens de células-tronco embrionárias. Elas são capazes de assumir a função de qualquer tecido do corpo e estão entre as grandes esperanças de criar órgãos para transplante sem risco de rejeição.

Em entrevista coletiva convocada pela Universidade Nacional de Seul, Hwang disse que vai pedir à “Science” que anule o artigo de maio por causa de problemas com as fotos e “erros e buracos fatais ao relatar as realizações científicas”. Por outro lado, disse que mantinha todas as principais conclusões do trabalho.

“Nossa equipe de pesquisa produziu células-tronco embrionárias específicas para cada paciente, e nós temos a tecnologia para criá-las”, afirmou. “Criamos 11 linhagens e todos confirmaram isso.” Segundo o pesquisador, algumas das células morreram ao serem infectadas por fungos, mas outras estão sendo descongeladas para provar que as múltiplas clonagens realmente aconteceram. Ele pediu um prazo de dez dias para apresentar os dados.

Novo ataque

Em outra entrevista coletiva, porém, um ex-colega de Hwang voltou a acusá-lo de ter falsificado os resultados. Sung-Il Roh, do Hospital Mizmedi, havia dito anteontem que o próprio pesquisador confessara a fraude numa conversa particular. “O que posso dizer se Hwang fica mudando o que ouvi de sua própria boca ontem?”, atacou. “Ele está evitando assumir a responsabilidade.”

Um ex-pesquisador do Mizmedi e também co-autor da pesquisa, Sun-Jong Kim, saiu em defesa de Hwang. Hoje na Universidade de Pittsburgh, Kim afirmou ter visto pessoalmente oito linhagens de células-tronco estabelecidas e mais três sendo cultivadas. “Seis membros da equipe as checavam todas as manhãs”, contou.

Desapontamento

Em teleconferência organizada para esclarecer a situação atual, Donald Kennedy, editor da “Science”, disse que as últimas semanas tinham sido “longas, confusas e desapontadoras”.

Segundo ele, as últimas informações enviadas por Hwang ao periódico diziam que os dados de análise de DNA e os oriundos dos teratomas (tumores com todos os tipos de tecido, provocados pela injeção das células-tronco em camundongos e usados para provar que elas são mesmo versáteis) não eram confiáveis.

Se os dados realmente não valem, todas as conclusões do trabalho -a clonagem e a produção de linhagens embrionárias- caem por terra. Kennedy diz ainda não saber como conciliar isso com a entrevista de Hwang. “O artigo poderia ser cancelado mesmo se houver erros referentes a detalhes. Mas é preciso que todos os autores cheguem a um acordo a esse respeito”, afirmou, ressaltando que Hwang está contatando todos os outros cientistas para conseguir esse consenso.

Katrina Kelner, editora-assistente da “Science”, defendeu os revisores do artigo. “Os dados de DNA podiam ser interpretados como estranhos ou como normais”, avalia ela.

Argumentos falaciosos – Frederic Litto

Fonte: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/index.htm

Todo mundo sabe o que é uma mentira. Feita de uma pessoa para outra, ou para muitas outras, é uma afirmação cujos fatos enunciados não correspondem à verdade. Mentiras são maneiras de evitar uma possível punição ou de encobrir uma situação ridícula; pode ser também uma estratégia para não comprometer outras pessoas injustamente. Afinal, ninguém gosta de ser, ou merece ser, vítima de mentiras no que elas têm de condenável porque escondem a verdade. Por exemplo, houve uma época no Brasil, quando todos sabiam que se o governo federal anunciasse que não ia fazer alguma coisa, como criar um novo imposto, baixar uma nova lei de emergência…. isso infalivelmente seria feito, e dentro de pouco tempo. A vítima de uma mentira sempre está em desvantagem porque não sabe a verdade, não tem a informação correta para tomar uma decisão acertada, podendo ainda se sentir em dúvida, num ceticismo perturbador, até que a verdade se imponha. A vítima de uma mentira age sob a influência de um ardil verbal. Acredita naquilo que supõe ser verdadeiro quando não o é. Podemos ser vitimados também por um outro tipo de desvio de pensamento que é tão perigoso e enganador quanto a mentira: a falácia.

Enquanto a mentira é uma informação falsa, uma falácia é um argumento falso, ou uma falha num argumento, ou ainda, um argumento mal direcionado ou conduzido. A origem da palavra “falaz” remete à idéia do deceptivo, do fraudulento, do ardiloso, do enganador, do quimérico. Para entender bem isso, é preciso lembrar que quando pessoas esclarecidas tentam convencer outras também esclarecidas a acreditar em suas afirmações, precisam usar argumentos, isto é, exemplos, evidências ou casos ilustrativos que confirmem a veracidade do enunciado. Como se vê, estamos falando de discursos, de enunciados, de declarações feitas com o fim de persuadir, levando alguém ou um grupo a acreditar numa coisa ou outra. Você acredita em tudo o que escuta ou lê? Claro que não. A diferença entre uma pessoa esclarecida e uma não- esclarecida é a maneira como ambas lidam com discursos: a primeira tem critérios para aceitar ou rejeitar argumentos; a segunda ainda não aprendeu os critérios para distinguir argumentos que carecem de fundamentação.

Note bem: não confunda mentiras com falácias. Mentiras são desvios ou erros propositais sobre fatos reais; falácias, por outro lado, são discursos, ou tentativas de persuadir o ouvinte ou leitor; promovendo um engano ou desvio, porque suas estruturas de apresentação de informação não respeitam uma lógica correta ou honesta, pois foram manipuladas certas evidências ou há insuficiência de prova concreta e convincente. Uma afirmação falaciosa pode ser composta de fatos verdadeiros, mas sua forma de apresentação conduz a conclusões erradas. Toda pessoa esclarecida, instada a elaborar argumentos, por força do trabalho que executa ou de situações cotidianas, deve reconhecer nos próprios argumentos o uso proposital do raciocínio falacioso (intenção de ludibriar) e a imperícia de raciocínio (lógica acidentalmente comprometida). De uma forma ou de outra, compra-se ou vende-se gato por lebre.

Uma vez sabendo identificar falácias, você vai começar a vê-las por todo lado. Nos discursos de candidatos a cargos políticos, nas notícias de jornal (tanto impresso quanto televisivo), nas reuniões de condomínio, nas frases de vendedores (de imóveis, de carros e planos de saúde, de cartões de crédito). Há quem cometa falácias sem malícia, meramente como resultado de raciocínio apressado ou ingênuo. Mas é mais freqüente encontrar falácias em argumentos de pessoas ou instituições que querem enganar o ouvinte, querem convencê-lo a concordar com o enunciado (seja votar, comprar ou decidir, manipulando a vontade do interlocutor).

Para quem é professor, por exemplo, é mais importante levar seus alunos a entender como identificar falácias enunciadas por outros, e como não cometer uma falácia, do que ensinar uma grande quantidade de fatos a serem memorizados e logo esquecidos. Aquilo que o professor ensina aos seus alunos deveria ficar com eles até o fim dos seus dias, protegendo-os de políticos capciosos, vendedores oportunistas e de vizinhos intimidadores, desejosos de manipular o pensamento dos seus ouvintes, enganando-os com argumentos falsos ou desviados.

Assim, uma falácia não é apenas um erro; é um erro de um certo tipo, que resulta do raciocínio impróprio ou fraudulento. A falácia tem todo o aspecto de um argumento correto e válido, embora não o seja. Esse é seu grande perigo: parece correto, mas não é, além do que, leva a outros erros de pensamento, como conclusões erradas. Existem três grandes categorias de falácias: (A) aquelas baseadas em ”truques de palavras”; (B) aquelas que representam a perversão de métodos de argumentos legítimos, especialmente o indutivo; e (C) aquelas que representam argumentos extraviados ou desencaminhados.

Para cada tipo de falácia daremos o nome, uma definição e um ou mais exemplos. [O autor ficará feliz em receber de leitores sugestões defalácias aqui omitidas para serem acrescidas numa nova atualização].

Confira:

A. Truques de Palavras
1. Equívoco
2. Conotação Contrabandeada
3. Eufemismo e Hipérbole
4. Ênfase Incorreta na Frase
5. Uso Incorreto de Etimologia
6. Acidente
7. Coisificação, ou Reificação

B. A Perversão de Métodos Legítimos de Argumentação
8. Depois do Fato, Portanto Devido a Ele
9. Números Grandes
10. Significância Ambígua
11. Citação Fora do Contexto, ou Contextualização
12. Falácias de Estatística
13. Composição
14. Divisão
15. Falácia Genética
16. A Ladeira Escorregadia

C. Argumentos Extraviados
17. Reivindicação à Perfeição, ou a Exigência de Perfeição
18. Circularidade, ou Evitando a Questão
19. Auto-Contradição
20. Non-sequitur, ou “Não Segue”
21. Generalização Precipitada
22. Generalização Desmedida
23. Argumentando a Partir da Ignorância
24. Jogo da Meia-Verdade
25. Falácia do “Homem de Palha”
26. Falácia de Bifurcação, ou de “Branco ou Preto”
27. Mudança do Ônus da Prova
28. Falácia das Premissas Escondidas
29. Estereótipos
30. Condenando a Fonte
31. Argumento ao Povo, ou Falácia do “Trio Elétrico”
32. Argumento de Autoridade ou de Antigüidade
33. Apelação ao Status Sócio-Econômico
34. Apelação à Pobreza
35. Argumento Dirigido às Emoções, ao Sentimento de Pena
36. Falácia da Conclusão Irrelevante
37. Falácia de “Dois Erros Fazem um Certo”
38. Apelação para Consideração Especial
39. Apelação pela Novidade
40. Apelação pela Repetição
41. Falácia da Redução ao Absurdo
42. Diversão
43. A Falácia Temática
44. Reducionismo Excessivo
45. Ameaça de Uso de Força