Jadel Gregório era a grande esperança de um lugar no pódio. Dono da segunda melhor marca do ano no salto triplo e com a ausência do sueco Christian Olsson, que está em fase de recuperação de uma cirurgia, o brasileiro tinha como principal adversário o romeno Marian Oprea, que registrara o melhor salto de 2005 e foi prata em Atenas, atrás apenas do supercampeão da Suécia.
Oprea havia saltado 17,81 m, em julho, enquanto Jadel conseguiu 17,73 m, em junho, a melhor marca de sua carreira. No entanto, nenhum dos dois confirmou a expectativa. O vencedor foi o norte-americano Walter Davis, com 17,57 m, seguido pelo cubano Yoandri Betanzos, com 17,42 m. O romeno foi apenas o terceiro, com 17,40 m.
O brasileiro ficou longe de suas melhores marcas. Conseguiu completar quatro dos seis saltos com sucesso, sendo apenas dois acima dos 17,00 m: o primeiro, com 17,11 m, e o quarto, com 17,20 m. A marca foi a mesma alcançada nas eliminatórias, quando disse que estava "se poupando", e o resultado o colocou apenas na sexta posição na classificação geral.
A justificativa foram dores no músculo direito e na panturrilha esquerda, mas, mesmo assim, o gosto foi de decepção, como confirma Roberto Gesta de Melo, presidente da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), e membro do Conselho da Iaaf (Federação Internacional das Associações de Atletismo). "Achávamos que o Jadel ganharia uma medalha no triplo, até os adversários dele acreditavam nisso. Ele foi bem, foi à final, saltou 17,20 m. O atleta é quem está mais chateado entre todos", afirmou.
O já tradicional revezamento 4×100 m rasos do Brasil, com os jovens Basílio Moraes, Bruno Pacheco e Jorge Célio nas vagas dos experientes Claudinei Quirino (recém-aposentado) e Edson Luciano (que se recupera de contusão), não brilhou como antes e ficou fora da final. "Corremos mal do primeiro ao quarto homem", disse Claudio Roberto, vice em Paris 2003 e presente em Helsinque, assim como André Domingos. O técnico Jayme Netto concordou que o desempenho não foi bom. "A gente tem de admitir quando não vai bem. Os velocistas, no masculino, foram mal no 4×100 e nas provas individuais."
Sem Vicente Lenílson, atleta que tem a melhor colocação no ranking dos 100 m rasos e que, lesionado, não foi à Finlândia, o Brasil não conseguiu passar à nenhuma final nas provas de velocidade masculinas, mesmo resultado dos meio-fundistas. Claudio Roberto (100 m), André Domingos, Basílio Moraes e Bruno Pacheco (200 m), Anderson Jorge (400 m), Osmar Barbosa e Fabiano Peçanha (800 m), além de Hudson de Souza ( 1.500 m) pararam já nas preliminares.
Além de Jadel Gregório, apenas outro atleta do masculino chegou à final. Sétimo em Atenas, Mathus Inocêncio foi o oitavo nos 110 m com barreiras, enquanto Redelen dos Santos e Anselmo Gomes chegaram às semifinais. "Não estou triste, nem posso. Mas queria chegar entre os cinco primeiros. E acho que ia conseguir, mas bati na quarta barreira. Sei que posso melhorar", disse o finalista.
Na maratona, Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze nos Jogos Olímpicos, sentiu uma contratura na perna direita e não completou o percurso. O brasileiro mais bem colocado foi Marilson Gomes dos Santos, em décimo. "Ele foi inteligente, soube correr num percurso difícil, e além disso mostrou uma grande forma", disse o treinador-chefe da seleção, Ricardo D’Angelo.
As mulheres brasileiras ofuscaram o desempenho ruim dos homens no Mundial. A melhor colocação do país na Finlândia ficou a cargo de Lucimar Moura, Luciana Santos, Thatiana Ignácio e Raquel Costa , que levaram o revezamento 4×100 m ao quinto lugar. O tempo conquistado, 42s99, é apenas 0s02 inferior ao recorde sul-americano, também pertencente ao Brasil.
Outro revezamento, o 4×400 m, com Maria Laura, Geisa Coutinho, Josiane Tito e Lucimar Teodoro, bateu o recorde sul-americano na semi, com 3min26s82. Na luta por medalhas, no entanto, a equipe foi desclassificada, pois Lucimar, reponsável por fechar a prova, mudou de posição para receber o bastão. Ela devia receber na raia seis, mas se posicionou em uma raia interna, o que não é permitido.
Entre as velocistas, o desempenho também foi melhor do que o masculino. Lucimar Moura chegou à semi nos 100 m e 200 m. "Alcancei duas semifinais. Não posso reclamar", afirmou a atleta. Sua xará, Lucimar Teodoro, também foi semifinalista nos 400 m.
No salto com vara, Fabiana Murer registrou 4,40 m e igualou o recorde brasileiro. No entanto, fica aí visível uma defesagem da prova no país em relação ao que se pratica no mundo, já que a russa Yelena Isinbayeva, na final, quebrou o recorde mundial pela 18ª vez na carreira, superando 5,01 m, 61 centímetros a mais do que o melhor salto do Brasil.
A expectativa é de que a renovação pela qual passa o atletismo brasileiro traga resultados expressivos nas próximas temporadas. Atletas como Basílio Moraes, Bruno Pacheco, Jorge Célio, Raquel Costa, Franciela Krasucki, Lucimar Teodoro, Amanda Dias, Fabiano Peçanha, Anselmo Gomes da Silva e Thatiana Ignácio, ainda todos abaixo de 23 anos, terão a missão de subir aos pódios em torneios internacionais e melhorar o desempenho de apenas quatro finais em Helsinque.