Garapa vai à universidade e vira combustível da elite – FSP 25/Fev/06

Bebida preferida dos freqüentadores de feiras livres e pesadelo de
quem quer emagrecer, o caldo de cana ganhou utilidade inusitada.
Tornou-se combustível de atletas, que usam o corpo (em forma) como
instrumento de trabalho.
Um copo, às vezes dois, após cada sessão de treino tem transformado o
desempenho de jogadores de futebol, vôlei, tênis e nadadores da elite
nacional.
“No começo, achei estranho, mas acreditei na proposta, e os resultados
têm sido ótimos. Percebo que fico mais disposta mais rápido. E o
treino rende mais”, afirma Arlene, líbero do Osasco, atual campeão
nacional de vôlei.
A experiência com o caldo começou em Campinas, na Unicamp. Os
pesquisadores descobriram que a cana-de-açúcar possui alta
concentração de carboidrato, responsável pela regeneração muscular
durante e após o esforço físico.
O assunto virou tese de mestrado de Mirtes Stancanelli.
“A restauração é muito melhor do que registramos com os produtos do
mercado. O próximo projeto é tentar transformar o caldo em pó”, afirma
a nutricionista.
Com a análise bioquímica em mãos, ela foi a campo. Seu primeiro teste
foi realizado no time da Ponte Preta, em 2001. Além de apresentar
resultados físicos nos atletas, o uso da cana ajudou a recuperar o
bolso do clube.
“Conseguimos economizar R$ 20 mil. O caldo é muito mais barato,
agradável de consumir e saudável que produtos industrializados”,
avalia Mirtes.
O Paulista, de Jundiaí, também adotou a tática para tentar agüentar a
dupla jornada entre o Paulista e a Libertadores da América.
O uso, porém, não é liberado, já que a bebida possui alto teor
calórico (200 ml têm de 150 a 200 calorias, dependendo da safra).
Mirtes calcula a dose diária necessária para cada um por meio de uma
equação que envolve a quantidade de sacarose no caldo e o peso das
pessoas. A fórmula, ela guarda a sete chaves.
Mas isso não significa que o caldo seja sinônimo de ganho de peso. A
nutricionista explica que a ingestão da bebida diminui o período de
jejum entre o treino e a refeição, evita que o corpo poupe energia e
faz com que os esportistas não se empanturrem.
Para alguns, o resultado da conta pode ser bem maior do que os cerca
de 200 ml que as jogadores do Osasco bebem todos os dias.
O tenista Ricardo Mello, no fim do ano passado, precisava ganhar
quatro quilos em seis semanas. Resultado: teve de encarar um litro de
caldo de cana por dia.
O suco, segundo a especialista, quebra a degradação dos músculos e
evita que eles sejam “consumidos” durante os exercícios.
“Nos treinos, a cada uma hora, eu tomava um copo pequeno. Quando
acabava, mais uns dois. Era meio litro de manhã e meio litro à tarde.
Achei que ia enjoar, mas foi bom”, recorda Mello.
O gosto forte e doce do caldo de cana é um dos problemas que Mirtes
encontra para estabelecer seu novo tratamento. Para superá-lo, usa
sucos de frutas, que aumentam a nutrição do atleta, ou mesmo água para
diluir a bebida.
“É bom porque varia o cardápio, principalmente para as meninas que têm
algum problema para beber muito. Mas eu prefiro o meu puro mesmo”, diz
Arlene.
O nadador Kaio Márcio, recordista mundial 50 m borboleta em piscina
curta, não enfrenta a mesma dificuldade. Pelo contrário.
Fã ardoroso da bebida, o paraibano transformou a garapa em objeto de
troca. Desde o começo da carreira, Kaio cumpria os treinos com mais
afinco sempre que seu treinador, Leodegário Arruda, o desafiava. O
prêmio: copos de caldo de cana.
O nadador também abusa da rapadura, sua sobremesa preferida, feita com
a cana-de-açúcar.
A experiência no cotidiano levou Arruda a pedir que o nadador não use
suplementos alimentares. Acreditava que não eram necessários. E, com
os resultados de Kaio, reforçou sua crença.

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