Educação requer mais investimento e menos conversa fiada.

TRIBUNA IMPRESSA
Editorial domingo, 10 de maio de 2009
 
Educação requer mais investimento e menos conversa fiada
 
Ainda que não sejam definitivas, as avaliações por amostragem, como a realizada anualmente pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), são as ferramentas que educadores e autoridades têm para diagnosticar o estágio atual da educação brasileira. São Paulo ainda tem o Saresp e o Idesp, obrigatórios, ao contrário do Enem, que também colaboram para a formação de uma visão geral do ensino. Independente das metodologias e das nuances políticas – o Estado diz que sua avaliação é mais minuciosa, a União garante que seu exame é mais real – os resultados têm mostrado um quadro desastroso do ensino público brasileiro.

No último Enem, de 2008, cujo resultado foi divulgado há pouco mais de uma semana, vimos mais do mesmo: apenas 8% das escolas públicas do País estão entre as top com médias satisfatórias, acentuando o abismo em relação ao ensino privado, que, aliás, também teve notas piores que em 2007 no cômputo geral do País. Em Araraquara, as notas médias atingidas pelos estabelecimentos recuaram 6% e, entre as dez escolas com média aceitável, há apenas uma pública, a Industrial (Escola Técnica Estadual Anna de Oliveira Ferraz). Pior ainda, a distância entre o ensino privado e público está em 20%, perpetuando e agravando as diferenças sociais.

As inúmeras análises sobre as avaliações educacionais em bloco desembocam invariavelmente, dentro e fora dos gabinetes oficiais, nas mesmas conclusões: deficiência de estrutura nas escolas, falta de capacitação dos professores e desmotivação dos alunos. Os governos não investem, os programas param nas máquinas burocráticas e o bonde da Educação não avança. No último levantamento divulgado pela Unesco, em novembro, o Brasil estava entre os top 20 em repetência no mundo e ainda possuía 14 milhões de adultos analfabetos e cerca de 600 mil crianças fora da escola.

Se imaginarmos que nem mesmo os resultados das escolas particulares são animadores, o que nos espera para os próximos anos? O que será de nossa Educação se os resultados práticos continuam paupérrimos e se os grandes projetos de formação acadêmica no Ensino Básico ficam no campo da retórica, seja nas manifestações do Governo do Estado, seja nos espasmos oferecidos pelo MEC? E os municípios, o que podem fazer isoladamente? Araraquara, em particular, está se mexendo e vai trazer a grade curricular do Senai, o que pode ser um bom começo.

Um bom exemplo da falta de apoio oficial é o que ocorre na escola pública estadual com melhor avaliação do Estado no Enem. Localizada no município de Taboão da Serra, a escola Lúcia de Castro Bueno não segue os parâmetros curriculares oficiais, segundo sua direção, e ignora grandes projetos, como os de informática, porque não há computadores suficientes. Vai também na contramão de ideias recorrentes, como a de funcionar em tempo integral, porque simplesmente está fora da realidade socioeconômica enfrentada por seus alunos, a maioria dos quais precisa trabalhar. Ou seja, a escola funciona por ter um projeto próprio e não por seguir as determinações oficiais.

É claro que esse não pode ser o modelo para o País ou para nossa cidade. Mas tem sido assim, infelizmente, mesmo nas escolas particulares. Os melhores estabelecimentos de ensino criaram normas próprias por não ter um programa pedagógico convincente a seguir. E se o ensino privado ainda consegue administrar recursos próprios, que depende de suas iniciativas de gestão, como ficará o ensino oficial?

Há dois consensos inabaláveis quanto se analisa a situação da Educação no País. O primeiro: apenas no momento em que os jovens encontrarem professores preparados e bem remunerados, os resultados vão aparecer, porque haverá motivação para estudar. O segundo consenso: a estrutura do ensino no País não possui um modelo minimamente sólido de pedagogia e não existem instalações adequadas em grande parte das regiões brasileiras, tanto nas áreas metropolitanos como no contexto rural. Resumo da ópera: é vital investir, e muito, em toda cadeia de ensino, em programação pedagógica, material humano e instalações.

Se de fato existir o sonho de transformar a Educação em prioridade nacional, não há outro caminho. Sem pôr a mão no bolso, os megaprojetos e programas revolucionários de ensino, em todas as esferas, não passarão de palavrório oficial e inútil.

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