Estoque de analfabetos

Editorial – Correio Braziliense – 20/9/2008

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostra avanços nos
indicadores educacionais, mas em ritmo aquém do desejado. A taxa de
analfabetismo, por exemplo, mantém a tendência de queda. Em 2004, o
percentual era de 11,4%; em 2005, 11,1%; em 2006, 10,4%. Em 2007,
permaneceu o índice de dois dígitos — 10% entre a população de 15 anos
ou mais. No Nordeste, os números são piores. Nada menos que 19,9% da
população não sabe ler nem escrever. Em 1992, as cifras eram mais
vergonhosas — 32,7%.

Os 14,1 milhões de jovens e adultos analfabetos correspondem à
população sueca e norueguesa e mais de 35% da argentina. Eles colocam
o Brasil em vexatória posição no ranking latino-americano de 22
nações. O país ocupa o 15º lugar, atrás de Bolívia (9,7%), Suriname
(9,6%), Peru (9,5%), México (7,6%), Equador (7,4%), Panamá (6,6%),
Colômbia (6,4%), Paraguai (6,3%), Costa Rica (4,1%), Chile (3,1%),
Argentina (2,4%), Uruguai (2%), Trinidad e Tobago (1,3%) e Cuba
(0,2%).

Desde meados da última década, o Brasil universalizou o acesso à
escola. Ao esforço de mais de 25 anos, porém, não correspondeu o
empenho de reter o aluno nas salas de aula nem de melhorar a qualidade
do ensino. A conseqüência da indiferença e cegueira de sucessivos
governos se observou em duas ações. De um lado, a formação de
analfabetos funcionais. Depois de 2, 3, 4, 5 anos de estudos, o
adolescente é incapaz de entender a mensagem de um texto simples ou de
fazer as quatro operações. Adulto, vê-se excluído dos bons empregos.
Perpetua-se, assim, a reprodução da pobreza.

De outro lado, a evasão de crianças e jovens. Ao abdicarem
precocemente dos livros, eles abandonam o sistema e tornam-se presa
fácil do tráfico. Pesquisas comprovam que, enquanto se mantêm na
escola, meninos e meninas correm menos riscos. O sentimento de
pertencer a grupo socialmente aceito inibe as tentações de aventuras e
ganhos fáceis.

Melhorar a qualidade do ensino impõe-se não só pela necessidade de o
país contar com mão-de-obra qualificada exigida pelo mundo
globalizado. Impõe-se também para diminuir a violência, a população
carcerária e a pressão sobre a previdência e o equipamento hospitalar.
O assunto é tão importante que não deve ser projeto deste ou daquele
governo, mas projeto de Estado.

União, estados, municípios, ONGs, igrejas, clubes de serviços devem se
dar as mãos e buscar saídas criativas e eficazes para tornar a
educação prioridade nacional. A sociedade não pode aceitar que seus
filhos vão à escola sem aprender. Eles devem aprender o que têm de
aprender na idade certa. Acertar o passo da educação é condição
indispensável para o país ultrapassar a barreira do atraso e do
subdesenvolvimento.

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