Atletismo faz chover medalhas no Engenhão e bate recorde em Pans

Debaixo de muita chuva, o atletismo brasileiro garantiu neste sábado
sua melhor participação na história dos Jogos Pan-Americanos, com 22
medalhas, sendo oito de ouro, e ainda falta a maratona masculina, no
domingo, na qual Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze na Olimpíada de
Atenas, é um dos favoritos.

Esporte que mais medalhas deu ao Brasil em Jogos Pan-Americanos, o
atletismo não vinha convencendo no Rio, e até iniciar a jornada deste
sábado tinha apenas quatro medalhas de ouro. Algumas medalhas
consideradas certas, como os 10.000 metros masculino e a maratona
feminina, tinham se esvaído e pairava uma incerteza na equipe e na
torcida.

Mas a chuva torrencial do sábado parece ter lavado qualquer
fragilidade e os atletas brasileiros colheram em um só dia o mesmo
número de ouros que tinham garimpado nos quatro dias anteriores. O
resultado supera as expectativas que rondavam em torno de ultrapassar
por pouco o desempenho de Winnipeg-99, onde o Brasil conquistou 16
medalhas, sete de ouro. Em Santo Domingo-2003, o país repetiu as 16
medalhas, mas viu os ouros minguarem para cinco.

Para chegar ao novo recorde em Pan-Americanos, o atletismo contou com
algumas surpresas e a maior delas foi a primeira medalha do sábado,
conquistada por Sabine Heitling nos 3.000 metros com obstáculos.
Sabine não era nem a melhor brasileira na prova e pagaria alto na
bolsa de apostas. Mas a gaúcha de Santa Cruz do Sul não só levou o
ouro, como fez o melhor tempo de sua carreira mesmo afundando o pé na
pista encharcada e no rio de um dos obstáculos da prova.

Sabine ainda estava festejando sua conquista, quando a prova do salto
com vara chegou ao fim, com novo ouro brasileiro. Fábio Silva não era
uma surpresa como Sabine, pois tinha a segunda melhor marca da
temporada (5,77m) entre os 11 participantes, conquistada há pouco mais
de um mês, quando quebrou o recorde sul-americano, que pertencia há 22
anos a Tomas Hintnaus, com 5,76m.

RISCO DE CONTUSÃO

Fábio chegou à zona mista, onde os atletas conversam rapidamente com
os jornalistas após as provas, como se tivesse vencido uma prova
qualquer. Não exalava nenhum emoção e não fez qualquer menção ao calor
da torcida. Seu discurso foi técnico.

"A chuva atrapalhou o desempenho de todos os atletas e ficou difícil
saltar alto. A vara escorregava, havia o risco de contusão", disse
Fábio, que saltou 5,40m 10 centímetros a mais que o mexicano Giovanni
Lanaro, dono da melhor marca do ano (5,82m).

Aos 20 anos, Fábio é mais um representante da vencedora geração
brasileira dos saltos, treinada por Elson Miranda e Nélio Moura, e que
na vara deslanchou após os treinamentos com o ucraniano Vitaly Petrov,
que foi o técnico de Sergei Bubka, o maior saltador com vara de todos
os tempos.

"O ganho técnico (de treinar com Petrov) foi de 100 por cento", disse
Fábio. "Mudou tudo na nossa preparação, do treinamento em si à maneira
de segurar a vara e correr", contou o novo medalhista pan-americano,
ressaltando que depois da temporada com Petrov passou de 5,30m para
5,55m.

O terceiro ouro do dia veio com o revezamento 4x100m masculino, que
conquistou o tricampeonato Pan-Americano num momento de troca de
geração dos velocistas no país. Formado por Vicente Lenílson, Rafael
Ribeiro, Basílio Morais Júnior e Sando Viana, o revezamento brasileiro
venceu com folga, no tempo de 38s81. O Canadá ganhou a prata, com
38s87, e os Estados Unidos, o bronze, com 38s88.

O fecho de ouro do dia coube ao triplista Jadel Gregório,
superfavorito da prova, e único a saltar acima dos 17 metros. Chegou a
17,27m logo em sua segunda tentativa. Mesmo sendo um dos melhores do
mundo no salto triplo, Jadel era todo emoção após a vitória.

"A chuva atrapalhou, mas a torcida compensou. Foi muito gostoso, a
torcida foi fenomenal. Foi ela que empurrou os atletas brasileiros
para as medalhas de hoje", disse Jadel, que fez questão de retribuir o
apoio com uma demorada volta olímpica na pista para saudar o público.

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