Brasileiros da maratona opõem juventude e experiência

A dupla masculina que vai representar o Brasil na disputa da maratona,
no Pan-Americano, opõe um veterano e um novato. Aos 37 anos, Vanderlei
Cordeiro de Lima chega para defender o bicampeonato pan-americano,
credenciado pela conquista do bronze nas Olimpíadas de Atenas-2004, na
histórica prova em que foi empurrado por um expectador antes de voltar
a correr e conquistar o bronze.
Franck Caldeira, de apenas 24 anos, pode ainda não ter conquistas
importantes no cenário internacional, mas já conseguiu resultados
importantes no Brasil. Em 2004, venceu a Maratona de São Paulo, em sua
estréia na distância de 42.195 m. Foi também sua única vitória até
agora.

A diferença de 13 anos entre os dois atletas seria relevante?
Normalmente, os corredores de provas de fundo fazem a transição para a
maratona por volta dos 30 anos, quando tendem a atingir o auge nesta
prova. Assim, Franck seria exceção, e seu treinador avisa que ele
ainda não deve ser considerado um maratonista.

"Ele ainda vai fazer muitas provas menores. Por ainda ser novo, vamos
limitar a participação dele nas maratonas", diz Henrique Viana, que
orienta o atleta. O técnico acredita que é possível começar cedo,
desde que seja como uma preparação para o futuro. "Nós consideramos o
auge para um maratonista de 28 a 32 anos, mas não quer dizer que ele
não possa correr antes. Ele deve fazer uma preparação pensando em
correr bem com 28 anos."

Para ilustrar sua tese, o treinador recorre à cultura popular. "Sou do
interior de Minas e vou explicar da forma mais simples. Quando minha
mãe ia preparar um frango jovem, ela colocava na panela e o frango
cozinhava rápido. Quando ela ia fazer um galo velho, demorava horas
naquele fogão de lenha. Isso porque o frango tem suas fibras
musculares mais frágeis e o galo tem suas fibras mais enrijecidas",
diz. Ou seja, os atletas mais velhos estão mais preparados para correr
os 42.195 m da maratona.

O outro atleta que poderia estar na disputa no Pan é Marílson Gomes
dos Santos, dono das duas melhores marcas do país na maratona, este
ano. Mas ele abriu mão da vaga e vai tentar a classificação nos 5.000
m e 10.000 m. O atleta fez sua estréia na prova de rua em 2004, aos 26
anos e conseguiu seu primeiro grande resultado no final do ano
passado, ao vencer a Maratona de Nova York, aos 29 anos.

"O único a iniciar cedo foi o Franck, mas não com resultado
internacional, como o Marílson e o Vanderlei", ressalta Ricardo
D'Angelo, técnico de Vanderlei Cordeiro de Lima. Ele tem opinião
semelhante à de Henrique Viana, defendendo que é preciso ter rodagem
antes de se lançar na prova mais longa.

"É necessário ter uma vivência fisiológica nos 5 e 10 mil para depois
passar para a maratona. Para um atleta mais novo, você pode estar
propondo uma carga de trabalho sem que o organismo estivesse preparado
ainda. Um atleta de 20 ou 21 anos pode correr bem uma maratona, mas
não sei se vai correr bem durante dez anos. Precisa fazer adaptações
anteriores", explica.

Se, no futuro, Franck ainda deverá ser avaliado, outra maratonista
brasileira que vai ao Pan, assim como ele, também começou cedo, e
comprovou que as exceções podem dar certo. Márcia Narloch já tem 20
anos de carreira como maratonista e vai tentar o bicampeonato no Pan.

"Eu acho que essa história de idade vai muito da característica de
cada atleta. Eu mesma comecei antes dos 30 e não parei mais. Para mim,
isso vai mais da genética", defende. Mas a corredora admite que essa
não é a regra em uma prova tão desgastante. "Sou uma exceção", diz.

"Quando fiz minha primeira maratona, em 1990, na Alemanha, meu
técnico, o Filé, tinha vários pontos de interrogação, não sabia se era
muito cedo ou não, sabia que tinha o risco de eu me machucar. Mas eu
fui bem, terminei em segundo lugar, não me senti quebrada", descreve.
"Para ele, foi uma surpresa muito grande", completa.

Na opinião de Narloch, uma das grandes vantagens de passar dos 30 para
um maratonista, é ter mais controle emocional para enfrentar o
desafio. "A vantagem é estar mais preparado mentalmente", afirma.

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