Evento “Educação 360” discutiu o rumo da educação com a BNCC.

A forma como o ensino será levado para dentro da sala de aula e o conteúdo dos novos currículos devem receber uma atenção especial de todos os envolvidos com a educação no país, a partir da implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A avaliação é do coordenador do Programa Internacional de Avaliação de Alunos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas Schleicher, feita durante o Educação 360, realizado em São Paulo para debater a BNCC. O evento foi patrocínio pela Fundação Telefônica Vivo e Instituto Unibanco.

É um desafio saber como evoluir na forma de apresentar os conteúdos aos alunos para que eles desenvolvam as habilidades do século 21. Não predominam mais as competências manuais, mas as atividades cognitivas, o pensamento com criatividade e com habilidades sociais, de cooperar, de se conectar – avalia Schleicher. Para o representante da OCDE, a educação deve se preocupar com novas habilidades, que levem em consideração o fato de as pessoas estarem vivendo uma revolução digital.

O pesquisador Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco,  se diz otimista em relação ao impacto da BNCC. Para ele, agora o país tem capacidade de seguir em direção ao avanço nessa área. Um dos desafios será a estruturação curricular do ensino infantil e do ensino médio. Nesse contexto, acredita, será preciso que o governo federal, por intermédio do Ministério da Educação (MEC), tenha uma estratégia de apoio a estados e municípios para a implementação da Base Curricular.

– Uma questão vital é a qualificação dos professores no processo pedagógico, adequando suas capacidades para lidar com essa nova estrutura curricular – destacou Henriques.

Colaboração

O aprendizado com qualidade dentro da sala de aula pode trazer uma série de benefícios para a sociedade. Um deles, lembra Eduardo Deschamps, ex-secretário da educação de Santa Catarina e presidente da comissão da BNCC no Conselho Nacional de Educação (CNE), é a prosperidade. Mas esses avanços na qualidade do ensino só são possíveis a partir de uma cultura de colaboração na escola, defende o especialista:

– A colaboração é uma parte fundamental para avançar entre os agentes envolvidos. Melhorar a educação no Brasil é um desafio muito mais complexo. Como não resolvemos até hoje problemas de alfabetização, é como dar um salto do século 19 para o século 21. Se ficarmos presos a uma zona de conforto, não vamos dar essa virada do círculo de dor social para a prosperidade. É imprescindível dar condições básicas à população para que ela desenvolva suas competências. Isso pode fazer a diferença.

A aprovação da BNCC, responsável por orientar a elaboração de currículos para o ensino infantil, fundamental e médio é, segundo Haroldo Rocha, ex-secretário de Educação do Espírito Santo e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), não o fim, mas o início de um novo momento para a educação brasileira.

– É preciso que reflitamos sobre qual cidadão queremos formar e em qual mundo estamos vivendo. É uma reflexão também da sociedade, que foi provocada pela Base Curricular. Agora, sua implementação vai propiciar isso – avalia o secretário.

Modernização

Trabalhar a formação do aluno a partir do desenvolvimento de competências e habilidades faz da BNCC um documento alinhado aos mais modernos conceitos pedagógicos. Mas a implementação só será efetiva, afirmam os especialistas, se o país rever o modelo de formação de professores para a educação básica.

– Atualmente, não estamos formando os futuros professores com qualidade para trabalhar no que indica a BNCC. Quando a gente olha para a BNCC, ela aponta para a indústria 4.0, mas o professor continua sendo formado na 2.0″, afirma Mozart Neves Ramos, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atual diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.

– Nosso currículo não consegue fazer a correlação de conhecimentos na estrutura curricular. Os cursos de licenciatura continuam oferecendo as disciplinas estanques, que não conversam entre elas e menos ainda fazem qualquer ponte com os conteúdos relacionados à didática, ao conhecimento prático”,  completou.

Enquanto a formação de professores não for tratada como política estrutural, não adianta esperar grandes progressos econômicos no Brasil. Essa foi a tônica da palestra do presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Curi.

– Os autores estabelecem conexões bastante claras para mostrar que o fator mais dinâmico do desenvolvimento econômico, cultural e da inclusão da sociedade no acesso a direitos é a educação – disse Curi.

Um caminho que o Brasil segue na contramão, de acordo com os dados apresentados por ele. O resultado do Ranking de Inovação, por exemplo, mostra que, em 2017, o Brasil ficou com a 69ª posição – mais de 20 abaixo do que havia conquistado em 2011, quando ficou em 47º lugar.

Mudar esse cenário, afirmou, implica em olhar para o futuro professor mesmo antes que ele escolha a formação acadêmica.

– Hoje, as licenciaturas recebem os alunos com os piores desempenhos no Enem e não constroem um processo adequado de ordenamento da recepção desses alunos. Eles entram como chegaram e vão seguindo seus cursos.

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