Acolhimento e família: o que fazer e o que não fazer

Acolhimento e família: o que fazer e o que não fazer

A família é parte essencial desse momento. Saiba como incluí-la e prepará-la para a nova etapa na vida dos pequenos.

No início do ano letivo, a equipe escolar precisa estar preparada para realizar o acolhimento de seus novos alunos. Cada série escolar traz mudanças que precisam ser acompanhada para garantir que os alunos estejam adaptados. Mas a dificuldade de adaptação pode ser ainda maior para os que vão para a creche ou para a escola pela primeira vez. Por isso, além do trabalho realizado diretamente com os pequenos, é de igual importância saber lidar com os pais nesse período – que também estão experimentando essa novidade e podem se sentir ansiosos ou inseguros com a mudança.

Em boa parte dos casos, a maior dificuldade de adaptação é dos pais ou causada por eles – o que é compreensível. Se separar dos filhos e entregá-los para os cuidados de terceiros é uma tarefa emocionalmente difícil e que demanda tempo para se acostumar. “As diretrizes curriculares nacionais e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ressaltam a ideia de parceria entre família e escola”, diz Maria Paula Zurawski, selecionadora do Prêmio Educador Nota 10 e professora nos cursos de Pedagogia e de pós-graduação em Educação Infantil do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em São Paulo.  “Por isso, devemos pensar em uma ideia de acolhimento que envolva a todos”, explica.

GESTÃO ESCOLAR conversou com gestoras e professoras da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental e separou dicas do que fazer e do que não fazer no contato inicial com os pais que estão levando os filhos pela primeira vez para a escola ou que estão acompanhando uma mudança de etapa.

O QUE FAZER

Prepare a equipe
“Geralmente, a mãe tem o filho com ela sozinha em casa. Deixá-lo na escola pela primeira vez com pessoas estranhas para ambos é como se fosse um novo parto: aquela criança vai para um mundo diferente”, diz Ângela Maria de Castro Borba, diretora do Colégio Municipal Dr. José Vargas de Souza, em Poços de Caldas (MG). Por isso, antes de começar a realizar o trabalho de acolhimento dos novos alunos e de seus pais, é importante que a equipe gestora prepare todos os seus funcionários para esse momento. “Todos na escola precisam entender que os pais estão sofrendo e ter sensibilidade para lidar com isso. Nós já estamos acostumados e sabemos que nada grave irá ocorrer, mas para os pais é um momento de incertezas”, completa a gestora.

Converse previamente com os pais ou responsáveis
É importante que o primeiro contato direto entre coordenação e família ocorra antes que as aulas comecem ou o mais cedo possível. No ato da matrícula, algum gestor já pode conversar com os pais ou, ao menos, informar a data da primeira reunião. Nesse primeiro contato, deve-se transmitir segurança, mostrar que toda a equipe é formada por profissionais preparados e que as crianças serão tratadas com responsabilidade e respeito. Além disso, coloque-se à disposição para esclarecer dúvidas ou para ser contatada caso seja necessário.

Oriente os pais a preparar as crianças previamente
Pais que confiam na escola transmitem segurança para o filho. Por isso, durante a conversa com os responsáveis, é importante orientá-los quanto a preparação que precisam realizar em casa com os filhos que irão ingressar na Educação Infantil ou avançar para o primeiro ano do Ensino Fundamental. Os responsáveis pelas crianças devem explicar a elas o que é uma escola, quais as vantagens de frequentá-la, que haverá pessoas lá para cuidar delas e como será legal conhecer novas crianças. Tudo isso sempre em tom positivo e motivacional. Se a criança estiver saindo do Infantil para o Fundamental, vale compartilhar com ela o que muda nessa nova fase dela na escola.

Apresente a escola para todos
Para os primeiros dias de aula, a equipe gestora e os professores devem planejar um período de acolhimento que pode durar de uma a três semanas, no máximo. Nesses dias, o tempo de permanência das crianças na escola, principalmente das menores, deve aumentar gradativamente e os pais podem permanecer em sala em alguns momentos pré-estabelecidos. É interessante realizar um tour completo e explicativo pelas dependências da escola com a presença de todos, adultos e crianças. Assim, eles se sentirão mais pertencentes ao espaço.

Desenvolva atividades em conjunto
Aproveite que os familiares estarão na escola durante alguns períodos e planeje atividades que também os envolvam. “Eu já fiz até bolacha com as crianças e seus responsáveis para eles se sentirem integrados. Assim, sentem que a escola é diferenciada e está preocupada com o acolhimento. Também é possível fazer uma dinâmica que envolva pintura, quebra-cabeça ou contação de história, por exemplo”, diz Mara Mansani, colunista de NOVA ESCOLA e professora na E.E. Prof. Laila Galep Sacker, em Sorocaba (SP). Para a especialista Maria Paula Zurawaki esse também é um momento formativo, pois pais e responsáveis que estão acostumadas a cuidar só de seu filho podem observar outras famílias e ver outros modos de educar que também são válidos.

Mantenha objetos de apego por perto
Muitas crianças pequenas possuem objetos de apego, como bichinhos de pelúcia, um brinquedo ou paninhos. Para facilitar a adaptação, peça que os pais enviem para a escola algum objeto que seja familiar às crianças. Desse modo, ela irá se sentir mais confortável. É possível também criar um cantinho acolhedor com a ajuda das famílias e das crianças. Confira aqui um plano de atividade para este momento de adaptação.

Acredite na capacidade das crianças
Em alguns casos, a adaptação pode demorar a ocorrer de modo efetivo. Apesar disso, os responsáveis e a escola precisam entender que as crianças precisam ser fortalecidas na capacidade de enfrentar a separação. Isso é uma etapa do crescimento pessoal delas enquanto seres humanos. O choro, por exemplo, não deve ser ignorado. A perspectiva é de que em alguns dias, ela já estará adaptada ao novo ambiente e colegas. Caso isso não ocorra e ela chore bastante ou mesmo fique muito quieta, a primeira atitude é tentar solucionar o problema na base da conversa diretamente com ela. Converse sobre o reencontro com os pais e sobre as atividades que serão feitas naquele espaço. Caso não surta efeito, os pais devem ser acionados para uma nova reunião. Um encaminhamento para o psicólogo só deve ser realizado caso identifique-se questões mais complexas que não puderam ser resolvidas pela equipe escolar e família conjuntamente.

O QUE NÃO FAZER

Não quebrem acordos
Escola e família precisam manter uma parceria para que o período de acolhimento seja o mais agradável possível. Um dos passos importantes para isso é o estabelecimento de combinados entre responsáveis, escola e criança. “Os pais precisam manter em casa a mesma rotina de alimentação e sono da escola. E a criança precisa dormir bem para ir para escola ou vai ficar mais difícil de se adaptar”, diz Silvana Slonpo de Souza, coordenadora pedagógica no Centro de Educação Infantil Municipal Santa Rita, em Poços de Caldas (MG). Além disso, os responsáveis não podem chegar depois do horário combinado para buscar os filhos. Algumas ficam bastante ansiosas e o sentimento de abandono pode dificultar a adaptação.

Ninguém deve esconder informações importantes
Desde o primeiro contato, é importante que coordenadoras e professoras expliquem para a família que agora a escola também é responsável por parte da formação das crianças. Por isso, ela precisa ser informada de questões importantes. “Tive um aluno que não se adaptava de jeito nenhum, nenhuma estratégia adiantava. Resolvi conversar com a família e descobri que a mãe dele estava com câncer. Tudo aquilo era o reflexo do sofrimento pelo qual ele estava passando e eu não entendia. Esse diálogo franco ajudou bastante”, conta Mara.

A coordenadora Silvana destaca que esse trabalho é uma via de mão dupla e que a escola também deve manter os pais informados. “Nós sempre contamos para a família o que aconteceu através de bilhetes na agenda individual dos alunos ou conversas”, diz. “E a orientação para as berçaristas é que elas peçam o máximo de orientações sobre saúde, alimentação e outras questões dos alunos”.

Não trate os pequenos como “vítimas”
Um dos maiores erros dos responsáveis, causado pela sua própria dificuldade de desapegar, é tratar os filhos como “vítimas” de uma situação. Os pais precisam ser orientados que palavras como “coitado”, “tadinho”, “dó” e outras de mesmo sentido devem ser evitadas no que se refere a ir para a Educação Infantil ou anos iniciais. A escola não existe para causar sofrimento às crianças e, portanto, não é preciso demonstrar pena por ela estar passando por um momento tão especial quanto a adaptação escolar ou tentar retardar esse processo.

A professora Mara relata sobre um caso de superproteção que ocorreu em sua sala. “A criança não tinha autonomia para nada e só queria ficar com os pais. Com dó, os pais deixavam que o menino faltasse muito, o que causou uma defasagem enorme em sua alfabetização”. Em alguns casos, os pais procuram soluções ainda mais radicais, como retirar a criança da escola. “Já tive caso de pais que ficaram com tanta dó que quiseram retardar o início da vida escolar em um ano”, conta Karla Alessandra de Souza, professora no Colégio Presbiteriano Augusto Galvão em Campo Formoso (BA) e integrante do Time de Autores NOVA ESCOLA. Toda insegurança que os responsáveis apresentam deve ser afastada ao máximo dos pequenos.

Não troque crianças de sala
Quando a adaptação demora a ocorrer, é comum que os responsáveis peçam para que o aluno seja transferido de sala. Isso só deve ocorrer caso haja um problema muito específico que justifique a mudança. Na maioria dos casos, a dificuldade de adaptação não está relacionada à professora ou aos colegas, mas relacionada à um processo natural de se adaptar à nova dinâmica. Por isso, uma mudança representa apenas a transferência ou o encobrimento de um problema maior.

Não afaste os pais e responsáveis
“Já ouvi professor falando ‘na minha sala quem manda sou eu’ e com isso proíbe que a mãe ou o pai fique na escola durante o período de acolhimento. Isso é um erro grave”, aponta a professora Karla. “Por mais que o professor seja o responsável pela sala, não é dessa forma que se estabelece uma confiança com os responsáveis”. Portanto, por mais que a insistência e falta de confiança de alguns pais possam desagradar aos docentes, é importante ter paciência para estabelecer uma relação sólida e segura com as famílias. Afinal, é provável que a criança passe alguns anos naquela instituição e um primeiro contato agradável pode ser a chave para um bom acolhimento e uma vida escolar exitosa.

Fonte: Acolhimento e família: o que fazer e o que não fazer